Governança inteligente sem burocracia: a ascensão dos conselhos ad hoc
Uma estrutura prática para criar órgãos de governança flexíveis e não estatutários que aprimoram a estratégia sem alterar o controlo.

Muitas empresas acabam por chegar a um ponto em que os órgãos de governança tradicionais — assembleias de acionistas, gestão estatutária e conselhos formais — já não oferecem apoio estratégico suficiente.
Para resolver isso, as organizações criam órgãos de gestão flexíveis e não estatutários, como conselhos ad hoc, comitês estratégicos, painéis de especialistas e grupos de trabalho específicos para projetos.
Essas estruturas oferecem alto nível de especialização, reforçam a disciplina estratégica e apoiam os fundadores sem comprometer a autoridade gerencial.
1. Como estes órgãos são constituídos
Embora flexíveis, os órgãos de governança ad hoc devem ser criados por meio de um processo corporativo claro:
a) Resolução formal da empresa (ata/minuta)
Uma resolução dos acionistas ou do conselho estabelece formalmente o órgão, definindo sua natureza, finalidade, caráter não vinculativo e aprovando suas regras internas.
b) Regulamento interno / Livro de regras
Um documento conciso define o objetivo, o âmbito, a composição, os mandatos, as competências, as regras operacionais, as normas de confidencialidade e conflito de interesses e as obrigações de manutenção de registos.
c) Cartas de nomeação individuais
Cada membro recebe uma carta de nomeação confirmando a função consultiva, o estatuto de serviço independente, as obrigações, as regras de confidencialidade, as obrigações relativas a conflitos de interesses e os termos de remuneração.
d) Arquivo de manutenção de registos e conformidade
A empresa mantém a resolução de fundação, regulamentos, cartas de nomeação assinadas, agendas, relatórios, registos de presença e conflitos declarados para garantir total conformidade e preparação para auditorias.
2. O que é um conselho ad hoc?
Um conselho ad hoc é um órgão consultivo não estatutário, criado para fornecer uma visão externa estruturada sobre estratégia, desempenho e iniciativas de longo prazo.
Ele não detém poderes de decisão ou representação e não pode vincular a empresa.
3. Por que as empresas criam esses órgãos
- Experiência sem contratações a tempo inteiro: acesso a conhecimentos especializados em áreas-chave.
- Disciplina estratégica: Reuniões regulares exigem um planeamento e uma revisão estruturados.
- Apoio ao fundador: Um fórum para discussão de decisões complexas.
- Confiança dos investidores: Governança reforçada e preparação para a devida diligência.
4. Composição e nomeação
Um quadro ad hoc típico inclui:
- Um presidente, responsável pelas reuniões e acompanhamento.
- Especialistas independentes, fornecendo uma visão externa.
- Observadores, como fundadores ou executivos, sem deveres de membro.
As nomeações são formalizadas através de contratos de nomeação.
Os mandatos têm geralmente a duração de 1 ano para os membros e de 3 anos para o presidente, renováveis, salvo se forem rescindidos.
5. Competências essenciais
Os conselhos ad hoc concentram-se em questões estratégicas, e não operacionais:
- Revisão da estratégia anual e plurianual.
- Analisando o desempenho e os planos de expansão.
- Avaliação de grandes investimentos e riscos.
- Assessoria em cultura, liderança e desenho organizacional.
- Emitir recomendações não vinculativas.
6. Modelo Operacional
Os ritmos típicos incluem:
- Sessões mensais ou trimestrais para atualizações e revisões.
- Uma reunião estratégica anual para definir as prioridades do próximo ano.
As reuniões podem ser presenciais ou remotas. O presidente prepara as agendas e resumos concisos pós-reunião.
7. Modelos de remuneração
A maioria das empresas utiliza uma taxa por reunião, mantendo a independência e evitando riscos relacionados com a legislação laboral.
Os membros faturam diretamente à empresa e tratam das suas próprias obrigações fiscais e de segurança social. O tratamento do IVA depende da sua residência.
8. Deveres dos membros
Os membros devem:
- Aja de forma independente e imparcial.
- Prepare-se adequadamente.
- Mantenha a confidencialidade.
- Declare conflitos com antecedência.
- Abster-se de atos gerenciais, representativos ou operacionais.
- Evite agir como diretor de facto.
Violações graves ou repetidas permitem a remoção imediata.
9. Além dos conselhos ad hoc: outras estruturas
As empresas frequentemente criam órgãos adicionais, tais como:
- Comissões de Investimento
- Comissões de Risco
- Conselhos de Marca/Produto
- Painéis de entrada no mercado
- Grupos de Coordenação da Transformação
Todos partilham os mesmos princípios: especializados, não vinculativos, flexíveis, estratégicos.
10. Conclusão
Conselhos ad hoc e outros órgãos de governança flexíveis ajudam as empresas a crescer de forma responsável, fortalecer a tomada de decisões e acessar conhecimentos especializados, sem modificar a governança estatutária ou alterar a autoridade gerencial. Eles fornecem estrutura e supervisão, mantendo a responsabilidade firmemente com a administração e os acionistas.





















